segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Reabsorção Radicular Ortodôntica

Neste artigo de 2009, publicado pela Revista Dental Press, pelos autores Prof. Dr. Alberto Consolaro e pela Prof. drª. Maria Fernanda M-O. Consolaro; da disciplina de Patologia da FOB-USP e da Pós-Graduação da FORP-USP e da Ortodontia e Biologia Oral da Universidade Sagrado Coração - USC -Bauru - São Paulo. Mostra a importante relação entre a reabsorção radicular e genes de mediadores e receptores envolvidos direta ou indiretamente na reabsorção óssea e dentária radicular.

A forma pela qual a inflamação pode ser desencadeada, os mecanismos pelos quais ela ocorre, as suas possíveis evoluções, enfim, cada detalhe desse maravilhoso mecanismo de defesa é transmitido pelos pais através dos genes. No entanto, a ativação desses genes está condicionada ao tipo, intensidade e frequência do agente agressor, como parte do ambiente onde o homem vive. A maior ou menor destruição tecidual observada na inflamação e o melhor ou pior reparo estão condicionados pelos agentes agressores e não dependem dos genes.

Se a força ortodôntica induzir mais ou menos estresse, inflamação, hialinização e morte celular, isso não está diretamente relacionada aos genes que comandam o processo de defesa e reparo no
ligamento periodontal. Da mesma forma, se houver mais ou menos reabsorção radicular depois desses fenômenos biológicos acontecerem, ela não está na dependência dos genes, mas sim do tipo de força, da intensidade e frequência – que podem ser aumentadas, diminuídas, dissipadas ou não, dependendo da morfologia óssea local e radicular. A reabsorção radicular associada ao tratamento ortodôntico é do tipo inflamatória, ou seja, acontece associada e como consequência do processo inflamatório instalado no ligamento periodontal.


A Ortodontia, enquanto especialidade clínica e ciência, não precisa utilizar-se de subterfúgios para explicar, aceitar, justificar e assumir responsabilidades sobre as reabsorções radiculares que ocorrem, com frequência, durante e após o tratamento efetuado.

Desde que a anamnese, exame clínico e diagnóstico sejam precisos; o planejamento corretamente
idealizado e o tratamento adequadamente aplicado, as reabsorções radiculares poderão ser consideradas como custo biológico do tratamento, e não como iatrogenia.


Para isso, a consulta inicial e o planejamento meticuloso – cuidadoso com a aplicação precisa dos procedimentos terapêuticos – devem ser extremamente valorizados. O tempo de atendimento do paciente deve ser maior e os honorários profissionais devidamente recompensados.

Se houvesse uma causa genética e hereditária para as reabsorções radiculares, o profissional ortodôntico poderia se ver livre de responsabilidades em relação à perda de estrutura dentária e até de alguns dentes. A causa de tais ocorrências seria atribuída ao organismo do paciente, que teria herdado uma maior predisposição ou suscetibilidade às reabsorções radiculares.


Infelizmente, todos os trabalhos metodologicamente adequados revelam que, na clínica ortodôntica, há uma relação direta entre o tipo, intensidade e frequência da força, e a morfologia radicular e óssea local, com o grau de severidade da reabsorção radicular. Em outras palavras, o profissional pode planejar seus casos para evitar ou diminuir os danos provocados pelas reabsorções radiculares durante o tratamento ortodôntico, mas, para isso, terá que investir tempo, estudo e capacidade de prognóstico em seus planejamentos.

A reabsorção radicular, a modelação e a remodelação óssea são fenômenos com predominante participação de peptídeos e proteínas. A matriz orgânica dos tecidos dentários e ósseo é predominantemente proteica. Ao mesmo tempo, os mediadores envolvidos na regulação celular do processo têm, em sua maior parte, natureza peptídica. Onde temos mediadores temos receptores, também em sua maior parte de natureza proteica. Todos esses componentes são sintetizados e renovados a todo instante, graças às informações repassadas pelos genes a partir de estímulos dados pelos mediadores em seus receptores de membrana celular.

Os receptores interagem na superfície das células como verdadeiras fechaduras e os mediadores são as chaves que, acopladas corretamente, desencadeiam vias metabólicas que resultam em ativação de genes que irão comandar determinadas funções. Quase sempre, essa ativação é dependente da ação de mediadores na superfície da célula.

Logo, todos esses fenômenos são genéticos. Sem chances de errarmos, podemos dizer que a reabsorção óssea e dos tecidos dentários é um fenômeno geneticamente comandado, tem natureza genética. O termo genético representa um adjetivo, uma palavra que dá qualidade a um substantivo que expressa algo relacionado, de alguma forma, ao gene ou genes.

Ainda não foram identificados todos os genes relacionados à reabsorção óssea e dentária, da mesma forma, não foram identificados todos os genes relacionados à formação óssea e dentária. De tempos em tempos, teremos a identificação de genes relacionados a esses fenômenos.

A capacidade de formação dos ossos e dentes foi herdada ou transmitida pelos pais e tem natureza genética. Entretanto, as consequências estruturais e funcionais das agressões externas e da ação dos mecanismos de defesa que esses tecidos sofrem na interação com os fatores ambientais, em sua grande maioria, não foram herdadas. Entre esses fatores, como exemplo, podemos citar a reabsorção óssea e dentária durante a movimentação ortodôntica. Ou, ainda, como exemplos, temos as dilacerações radiculares, algumas fissuras palatinas, etc.

O receptor P2X7 é uma proteína observada em grande número de células do corpo, em especial nas cerebrais e na maioria das células da medula óssea – como os leucócitos polimorfonucleares, monócitos e macrófagos, e linfócitos B. No cérebro, parece ter importante papel no reparo após a inflamação, infarto ou ataque imunológico.

Nas células imunorreativas, o receptor P2X7 aparece em áreas de penumbra próximas à necrose induzida por obstrução das artérias cerebrais médias, sugerindo que sua expressão na superfície celular seja estimulada por células microgliais ativadas. Esse receptor parece estar sempre presente em áreas vizinhas à necrose ou sofrimento celular, como eventualmente ocorre no ligamento periodontal comprimido pelas forças ortodônticas.

A cada descoberta de genes de mediadores e receptores envolvidos direta ou indiretamente na reabsorção óssea e dentária radicular:

1) compreenderemos melhor o porquê e como elas acontecem;

2) abrem-se perspectivas para controlá-las com o uso de medicamentos e procedimentos preventivos;


3) reforça-se que a reabsorção radicular na movimentação ortodôntica decorre dos procedimentos mecânicos sobre os tecidos, pois esses induzem estresse e inflamação, cujos mediadores ativam os mecanismos genéticos para que ela ocorra, sem que isso caracterize o processo como hereditário.




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